Teoria da forma: Gestalt
A Gestalt foi uma “escola” de psicologia
experimental cujo precursor foi o filósofo austríaco Christian Von Ehrenfels em
fins do século XIX. Por volta de 1910 foi efetivamente implementada como linha
de pesquisa na Universidade de Frankfurt pelos psicólogos alemães Max
Wertheimer (1880-1943), Wolfgang
Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka
(1886-1940).
O movimento gestaltista atuou principalmente no
campo dos estudos da forma, da capacidade de percepção, de linguagem, inteligência,
motivação e aprendizado na dinâmica dos grupos sociais. De carater empirista,
os estudos da Gestalt fundamentavam-se na rigorosa experimentação da relação
sujeito-objeto à procura de explicações no campo da percepção humana, opondo-se
ao subjetivismo na análise dos fenômenos perceptivos, por considerá-los
resultado da interação da fisiologia do sistema nervoso com o campo material.
O termo original Gestalt propõe algo mais próximo
da “integração das partes” do que o entendimento de “soma do todo”, ao se
referir ao universo formal, e sua versão para inglês, espanhol e português é
geralmente traduzida como “forma”, “figura” ou “estrutura”.
Postulados da Gestalt
Conforme a Gestalt, a maneira de explicar a origem
dessas forças integradoras é atribuir a procura de organizações como estabilidade,
coerência e unificação na percepção das formas à um dinamismo autorregulador do
sistema nervoso central: “Todo o processo consciente, toda a forma
psicologicamente percebida está estreitamente relacionada às forças
integradoras do processo fisiológico cerebral”.
Essas organizações são espontâneas, não arbitrárias
e independentes da vontade ou do aprendizado e estão condicionadas influêcias
psicofisiológicas do ser humano. Na percepção da forma, não existe um processo cognitivo
posterior de associação desses vários estímulos e sensações, segundo a Gestalt:
“a primeira sensação já é de forma, já é global e unificada”.
Koffka ainda estabeleceria uma divisão entre forças
internas e externas que atuam no fenômeno da percepção visual e que terminam
por explicar “por que vemos as coisas como as vemos”. Segundo ele, as forças
externas são constituídas pela estimulação da retina através da luz proveniente
do exterior, e das condições em que incide nos objetos que observamos; enquanto
as internas, na estrutura do cérebro e no dinamismo cerebral ao processar as
informações externas.
A maneira como se estruturam as formas depende então,
do modo como se articulam as forças internas e externas conforme uma relação de
organização subordinada a algumas leis gerais e seus princípios perceptivos básicos.
Princípios perceptivos
De um modo geral, dentro da teoria da Gestalt, podemos
agrupar o jogo de forças que regem a organização perceptiva da forma, em quatro
princípios princípios perceptivos básicos: a tendência à estruturação organizada, a segregação figura-fundo, a pregnância
das formas, a constância perceptiva.
A tendência à
estruturação organizada é propensão natural do ser humano a
organizar ou estruturar os diferentes elementos confrontados, agrupando
elementos que se encontram próximos uns dos outros ou que possuam semelhança. No
ato de ver, as unidades individuais criam outras formas distintas ao serem
agrupadas e novamente unificadas. A propriedade de fechamento faz com que essa
unificação das partes se materialize numa nova forma unitária que possua
significado identificável. No caso da segregação
figura-fundo pode haver ambiguidade no fechamento de forma identificáveis. Este
fenômeno é o resultado da distinção
entre o campo primário e o campo secundário da visão. Dependendo do foco de
atenção, diferentes partes de um mesmo todo poderão representar figura ou
fundo, dividindo o campo perceptual em primário ou mais importante e secundário
em segundo plano. A distinção figura-fundo provoca um fechamento onde a
ambiguidade da mensagem visual é a característica marcante, não ocorrendo a predominância
de uma figura sobre a outra, mas sim uma
ênfase de percepção conforme a alternância do campo visual primário.
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Figuras 01 e 02: estruturação organizada/ segregação figura-fundo
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Haverá sim, predominância formal nos casos de pregnância
das formas, onde as qualidades
que determinam a facilidade com que percebemos figuras, estão associadas a
identificação de formas, cuja simplicidade e clareza introduzam uma ordem
perceptiva entre o todo e as partes. A pregnância
formal sempre priorizará o sentido de harmonia e equilíbrio visual, elegendo
como predominantes as formas geométricas e simétricas em detrimento à profusão
e a complexidade formal. Já a constância
perceptiva permite que uma vez
conhecidas as características dos objetos, o sujeito tende a percebê-los com a mesma
forma permanente, independente das condições e posições que esses objetos se
encontram. A constância perceptiva é
a fixação do conceito por trás de uma forma, o que permite sua identificação e
diferenciação entre o universo de formas existentes. Fatores como a proximidade
formal, a semelhança entre características e a continuidade de elementos levam
a um fechamento que identifica um objeto substantivo.
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Figuras 03 e 04: pregnância de formas/ constância perceptiva
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Influências psicofisiológicas
Para que se contemplem os princípios perceptivos, devemos
levar em conta a ação das influências psicofisiológicas na interpretação das
forças externas que são processadas pela visão e pelo sistema nervoso, conforme
suas características gerais.
Equilíbrio e tensão: relação de ajustamento estável entre eixos
horizontal-vertical dada pela fisiologia primária de varredura do olho humano, através
da compensação do peso em relação a um contrapeso. É o estado de distribuição
onde toda a ação chegou a uma pausa e a energia potêncial do sistema chegou ao
mínimo. Na composição equilibrada todos os elementos relacionam-se mutuamente
de modo que nenhuma alteração pareça possível e o todo assume o caráter de necessidade
em relação às partes. O equilíbrio não requer necessariamente a simetria, mas
esta é a técnica mais fácil para se chegar a estabilidade predominante numa
composição equilibrada. Por outro lado, a tensão é o efeito causado pelo desvio de atenção em relação à
estabilidade dos eixos horizontal-vertical
como quebra de repouso e por consequência, a modificação das condições de equilíbrio.
A tensão pode ser acrescentada a uma composição pela inserção de um elemento de
peso visual dissonante, como também pela alteração de sua posição e e direção. A
tensão não é a relação inversa ao repouso produzido pelo equilíbrio, mas sim a
força que modifica gradual ou repentinamente este aspecto de repouso.
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Figuras 05 e 06: equilíbrio/ tensão
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Peso e direção: o peso é sempre um efeito dinâmico de um elemento ou uma
posição “forte” no esquema estrutural que provoca tensão numa composição. O
peso depende do tamanho, da cor e da correlações entre os espaços no campo
visual. A atração entre os pesos vizinhos determina a direção das forças
visuais da composição, sendo que a direção das formas pode ser equilibrada pela
posição dos centros de atração no campo visual.
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Figura 07: peso visual
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Nivelamento e aguçamento do campo visual: na balança compensatória entre as grandezas acumuladas
pelos pesos visuais, podemos aguçar o sentido visual acrescendo tensões que perturbem
a estabilidade do conjunto, ou mesmo anulando-as com a paridade entre oa pesos
visuais que a tornem novamente estável. O nivelamento e o aguçamento são os efeitos
causados por elementos visuais que provoquem a concentração ou o desvio dos
eixos horizontal-vertical, reforçando ou retirando a sensação de centralidade e
estabilidade no campo compositivo.
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Figuras 08 e 09: nivelamento e aguçamento do campo visual
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Atração e Agrupamento: necessidade de construir conjuntos através de unidades,
baseado na relação de similaridade entre tamanho, forma e cor. Vem do princípio
básico da propensão humana de selecionar, agrupar e organizar elementos diferentes
conforme novas distribuições espaciais unificadas e inteligíveis.
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Figura 10: atração e agrupamento
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Positivo e negativo: ambigüidade da manifestação visual da forma sendo
alternada entre campo primário ligado a figura (positivo), e secundário ao
fundo (negativo), efeito da segregação figura-fundo e da capacidade fisiológica
de concentração e alternancia conforme campos visuais preferenciais.
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Figuras 11 e 12: positivo e negativo | |
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